Sunday, 8 April 2012
Natal...
É dia 25 de Dezembro, Meia-noite em ponto! O Sol entra em Capricórnio, signo ligado às cabras e portanto ao seu habitat: as montanhas e as grutas, esses ventres terrestres…
Foi assim que os nossos antepassados codificaram o nascimento do Menino numa gruta, a coberto, na obscuridade. Segundo as palavras de João: “A luz brilha nas trevas(…)”. Fizeram-no, pois a natureza, parte da obra da criação, explica-se em si e por si mesma. É nesta época, estação invernal, que o homem se recolhe no abrigo do seu lar, que acende as fogueiras que afastam o frio e cujo fogo animado porhipnos leva a mente para muito longe. Assim, o homem se agasalha na profundeza da sua própria essência, na sua caverna interior, naquele local habitado pela centelha divina, que é a imagem de Cristo na nossa natureza. É nessa caverna que o menino aguarda o seu nascimento.
O símbolo, o mito e a mística ajudam-nos a fixar a equivalência real que existe entre o nascimento em Belém (terra do pão) e o nascimento de Cristo no nosso coração. E por isso encontraremos ao longo deste e dos restantes anos, inúmeras equivalências entre o que se passa no céu, o que se passou com Yeshua e com o que se passa dentro do nós. Quando o Sol entrar em aquário recordar-nos-emos do baptismo. Quando o Sol entrar em Peixes, atentaremos à missão de Cristo que veio pescar, resgatar o Homem.
Voltemos a este momento. Hoje, a constelação de Virgem está no local onde o Sol nascerá, no horizonte. Orion encontra-se no nosso zénite com as suas estrelas alinhadas, apelidadas no oriente de três-reis e no ocidente de Três-Marias. O céu e a terra alinham-se para nós, para que cada um de nós, que procura entender o significado exacto da mensagem, possa entendê-la ou intuí-la. Hoje, é-nos indiferente saber se o Menino Rei nasceu dia 25 de Dezembro ou se nasceu noutra data. Na verdade importa-nos pouco, enquanto cristãos no verdadeiro sentido da palavra, ter como certo o próprio nascimento de Jesus homem. Acreditar ou não neste facto não altera em nada a realidade da mensagem. Importa-nos vivificar a mensagem no nosso íntimo. Importa-nos, neste período de trevas, preparar a sementeira da primavera separando o trigo do joio. Importa-nos festejar a chegada do mensageiro, porque foi ele que trouxe a mensagem e nos deu meios para que possamos retornar à casa do pai. Porque ele é o fogo que renova incessantemente toda a criação (Ignis Natura Renovatur Integra – INRI).
Neste momento, em todos os lugares terrestres e em todos os lugares celestes se celebra esta reunião e nós como reis magos ou pastores juntamo-nos à festa nesta vigília nocturna em honra do Deus uno e Trino. Escolhemos estar aqui! Privar-nos do conforto do nosso lar e da companhia de alguns amigos. Escolhemos atravessar a noite fria e escura para encontrar refúgio nesta gruta, nesta capela onde daqui a pouco veremos o menino nascer.
Vimos com confiança e amor. Vimos trazendo as nossas ofertas sinceras. As nossas alegrias e as nossas preocupações que depositamos junto à manjedoura. Iniciamos assim um novo processo de caminhada contínua ao longo de mais um ciclo anual que esperamos vir a ser pleno de realizações e descobertas. Preparamo-nos hoje para esta nova luz que desponta, para o novo calor da vida.
Não nos perdemos na mensagem exteriorizada que afirma que há dois mil anos um menino trouxe um novo reino à terra. Não o fazemos porque dois mil anos volvidos esse reino ainda não se implantou. Porque a guerra, a fome, a intolerância e tantos mais desaires continuam a marcar presença no dia-a-dia neste planeta. Como cristãos, fiéis à mensagem de amor de Cristo, não nos podemos conformar a esta realidade. Pelo contrário deveremos agir e dar exemplo para que Cristo nasça no coração de cada homem e mulher que vem a este mundo. Até que a terra se encha de Cristos! Esta foi uma das mensagens que o nosso Mestre nos deixou quando disse: “aquele que crê em mim fará todas as minhas obras. Ele fará até obras maiores”.
Sim, alguns de nós já terão gerado o menino, outros gerá-lo-ão em breve, outros só o conseguirão fazer daqui a alguns séculos; mas todos, todos sem excepção, terão de conceber, gerar e dar à luz o Deus Menino.
Maria e José, são exemplo. Eles representam os que já possuem condições para veicular, para receber o Salvador. São os arquétipos que representam toda a humanidade. Todos os homens e mulheres que existiram existem e existirão. A sua história mostra-nos as grandes provas que tiveram de passar para que a vontade divina se pudesse realizar. O mesmo se passa mais tarde com Yeshua. Ele não nasceu Cristo (do grego Chrestos - ungido). Ele passou por muitas provas e fazes até se tornar num Cristo! Este é um dos grandes segredos que a tradição esotérica e gnóstica tem guardado. O segredo acerca da sua dupla natureza: Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus.
Estas provas são necessárias, pois Deus deu Ordem a tudo o que existe. Assim ao manifestar-se neste plano ou reino físico (vide: Malkuth) Ele, por livre vontade, teve de se sujeitar às regras que ele mesmo lhe impôs. Ele não fez, nem faz, batota pois tal só serviria para se enganar a si mesmo.
Voltemos a Maria e a José.
Acreditamos que Maria tenha concebido pelo Espírito-Santo! Ao nível e plano a que este se refere. Contudo, fisicamente, terá necessariamente existido um veículo (ou suporte) dessa mesma potência: José da casa de David. Porquê? Uma das leis que rege a criação – a da correspondência – explica-nos esta realidade mostrando-nos que o físico e o espiritual se encontram ligados na mesma obra criadora.
O mesmo acontece em cada um de nós, enquanto seres com tripla divisão.
José, que representa o espírito ou fogo fecundador, equivale à nossa mente.
Maria, que representa a alma receptiva e fecundada, equivale às nossas emoções.
O Menino, que representa o novo ser, o novo corpo, simboliza o renascer da nova criatura.
A história da natividade, com seus fantásticos pormenores explora esta realidade. Lucas, diz-nos que em Belém todas as “estalagens” estavam ocupadas (devido ao recenseamento) e que José e Maria não encontraram sítio onde ficar. Ontem e hoje esta imagem descreve a nossa caminhada. Reparem que cada vez que erguemos um novo estandarte com um ideal nobre e belo, cada vez que estabelecemos uma nova meta espiritual e a levamos à porta (aos sentidos, ao intelecto etc) de alguém, todas as portas se fecham. As pessoas estão cheias (à imagem das estalagens) e não querem esforçar-se nem abrir a mente a todas as realidades que surjam; em qualquer espaço ou tempo. Todos fecham as portas!
Mesmo José (a mente), poderia ter fechado as costas a Maria (essa nova forma de sentir) mas não o fez. Ele protegeu Maria pois soube, compreendeu, que alguma coisa o ultrapassava.
A mente Intelectual e a mente Cardíaca são iguais partes da nossa natureza. Ignorar ou repudiar uma delas é repudiar uma parte de nós mesmos. Todos nós conhecemos alguém que repudiou José e que vive no mundo das ilusões, ou alguém que repudiou Maria e que se tornou seco ou descontente. É pois importante que cada um esteja vigilante como o galo (que anuncia o novo dia – a nova forma de estar e ser) para não cair repetidamente nos mesmos erros, compreendendo que Maria e José, representam estados, modos, formas íntimas da nossa vida.
Vejamos mais pormenores:
O estábulo, com a manjedoura (símbolo por excelência do local onde se come e bebe) prefigura as futuras palavras do Mestre: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue viverá eternamente”. Ele torna-se o local do primeiro sacrifício passado fisicamente pelo Menino. O mesmo ocorre com todos os que são habitados pelo espírito. S. João da Cruz chamou-lhe “a noite negra da Alma”. Mas é nessa manjedoura cheia de palhinhas douradas – quais raios flamejantes de luz – que se projecta nos céus a estrela. A estrela que guia até si aqueles que procuram os sinais. Os magos, os pastores, os atentos. Essa estrela flamejante, imagem da luz divina, cumpre-se na terra e culmina todo o processo de cristificação, de gravidez de Cristo – representado popularmente pela Sr.ª do Ó! Ela mostra-nos aquilo que bem sabemos, que a gravidez ocorre no ventre. A tradição esotérica oriental dá a esta sede energética situada no ventre o nome de Hara (que se pode traduzir por barriga ou campo de cinábrio). No oriente, aliás, encontramos práticas cujos nomes se associam à activação ou desactivação deste ponto que coincide com o centro de gravidade do corpo. Todos já terão ouvido a palavra Harakiri (suicídio por corte do ventre) ou terá tido contacto com algum tipo de arte marcial ou energética que use manipulação da força Ki, tal como o Tai Chi Kuan ou Ki Kung. Na verdade Ki, Energia-vital, Prana etc. designam a mesma força vivificante. Curiosamente, na alquimia chinesa, a palavra Hara serve para descrever o processo de transmutação do cinábrio…
Não é pois de estranhar que a concepção e a gestação ocorram nesse local e que seja aí que se encontrem os nossos cordões umbilicais. O físico e o supra-físico! No ventre ou na Hara!
Para os clérigos ou iniciados nos mistérios sacerdotais, também é óbvia a ligação que se estabelece entre o Cíngulo e este ponto. É exactamente nele que se ata o nó. Também é clara a ligação que existe entre o Hara e a Ara do altar (altar - lat: altare, altus+ara = alta+ara ou pedra elevada onde se efectua o sacrifício). É nela que se celebra e consagra, se mata e se dá a vida, às espécies entregues em oblação. É por isso que o Sacerdote em pé ladeia a ara com os seus braços em paralelo, de cotovelos apoiados nos rins. Para que a sua Hara se ligue à Ara consagrada do Altar. Aí se mata a matéria insubstancial para em seguida a infundir com a substância crística. Aí o vinho, representa o sangue aludindo à ligação nutritiva umbilical e ao vermelho ventre feminino. O pão, branco, refere-se á segunda forma nutritiva, ao leite que alimenta o menino e o germe que lhe deu vida. Tal é a simbologia iconográfica da Sr.ª do Leite. Ela simboliza a Alma que nutre sem cessar a forma nova, o novo ser que há-de suplantar o homem velho. O leite, alvo, é pureza e luz.
Estes são os elementos que se difundem pela terra ao nascer e por do Sol. O maná que vem dos céus! É por isso que de Oriente a Ocidente, os homens e mulheres ficam fascinados ao olhar para o Astro Rei. Consciente ou inconscientemente, nesse estado de sono latente, cada um recebe uma refeição de influxos celestes.
A Hara é a manjedoura onde as palhinhas representam esta imagem. O menino, ao centro encontra-se ladeado por um boi e por um burro: o boi liga-se à função reprodutora (vede por exemplo o mito do boi Ápis no Egipto ou ainda hoje a ligação que existe entre os bovinos o divino na cultura hindu) e o asno refere-se à nossa personalidade. O menino, ao centro, representa o Iniciado ou o verdadeiro cristão. Aquele que dominou as naturezas representadas pelos animais: a natureza sensual (de todos os sentidos) e a natureza relacionada com o domínio de tudo o que nos forma: social, moral e eticamente. O burro é teimoso, mas é também muito afectuoso e dócil. Ele não é a montada dos ricos, mas sim dos pobres que necessitam de um animal forte, que dure bastantes anos e que suporte as agruras do trabalho. Ele representa uma parte de nós.
A síntese de ambos resume-se na própria evolução, no crescimento saudável do menino em cada nova criatura.
Como sabemos, todos os meninos, todas as crianças, necessitam de evoluir aprendendo. Principalmente pelo exemplo. Elas aprendem a andar, a falar, a sentir… é isto também que o menino Rei nos pede. Ele hoje, no presépio, mostra-nos um caminho. Um caminho de retorno cujo destino é o homem restituído de todos os seus poderes e qualidades, o homem reintegrado em Deus. Ele mostra-nos que em qualquer momento podemos decidir gerá-lo, (à imagem de Isabel, mãe de João Baptista, que engravidou em idade muito avançada) pois para a infinita generosidade de Deus não há tempo.
Nesta noite Santa, ouçamos no nosso coração a voz dos Anjos que exultam o seu canto de “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” e unamo-nos a eles. Façamos com que Maria nos ceda a sua sensibilidade, com que José nos dê o seu auxílio; decidamos olhar para o Céu e ver a estrela que nos chama para a nova vida e que nos mostra que “hoje sobre nós resplandece uma luz. Nasceu o Salvador!”
Que assim seja, para nosso maior bem e para maior gloria de Deus.
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